A afirmação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, indicando esperar que “neste ano possamos aprofundar o diálogo sobre um acordo {de livre comércio} abrangente com a China” foi recebida com apreensão por segmentos do setor produtivo brasileiro. Na percepção do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, “num acordo como esse, somente um lado, a China, teria vantagens e o outro, o Mercosul,ficaria com as desvantagens”. Segundo ele, “o acordo com a China é uma realidade inconcebível”.
Ainda mais enfático na rejeição ao hipotético início de negociações de um tratado dessa natureza, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira, foi categórico ao afirmar que com um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China, “a indústria brasileira, não somente a de calçados, acabaria”.
José Ausuto de Castro cita dois exemplos que, em sua opinião, serviriam para atestar os danos que um tratado de livre comércio com a China trariam às indústrias dos países do Mercosul e do Brasil em especial: “os carros elétricos e calçados da China estão entrando no Brasil com preços irrisórios, principalmente os calçados, numa clara afronta às normas da Organização do Comércio (OMC). Mas, como neste momento a OMC não está presente em nada, todos fazem o que querem {no comércio internacional}. Infelizmente, o Brasil não tem nenhum poder porque não tem preço”.
Após afirmar que “recebemos com preocupação a possibilidade, ou hipotese de um acordo entre o Mercosul e a China”, José Augusto de Castro disse que “um acordo como esse envolveria a abertura do mercado brasileiro e a não abertura do mercado chinês. Uma abertura do mercado brasileiro, com a redução de tarifas, faria com que os produtos chineses entrassem ainda mais fortemente aqui. Por outro lado, nada aconteceria se a China abrisse seu mercado para os produtos brasileiros. E o motivo é simples: o Brasil não tem custos para operar na Chiha. Portanto, seria uma abertura unilateral do mercado brasileiro para os chineses”.
Para concluir, o executivo da AEB afirmou que “um acordo como esse nos preocupa porque, além do mais, a indústria brasileira está em um processo claro de desindustrialização e a cada dia perde mais mercados {especialmente para a China}”.
Acordo decretaria o fim da indústria nacional
Se mesmo com a inexistência de um acordo de livre comércio a indústria calçadista brasileira já enfrente a dura concorrência dos fabricantes chineses e vietnamitas, a situação seria diatramelmente pior quando e se um tratado dessa natureza vier a ser firmado pelo Mercosul com a China.
Segundo Haroldo Ferreira, somente no mês de junho, as exportações de calçados chineses para o Brasil cresceu 261%, comparativamente com o mesmo mês de 2023. Foram 705 mil pares em um único mês. No período, a China só ficou atrás do Vietnã no ranking dos países de origem das importações, que embarcou para o Brasil 1,47 milhão de pares no mês passado.
Ele destaca que “o mercado externo está sendo inundado por calçados chineses, em uma concorrência desleal com qualquer outro país produtor do mundo. São calçados exportados a preços abaixo dos praticados no mercado, comrcializados com a prática desleal de comércio {dumping}, além de condições trabalhistas pouco alinhadas aos padrões internacionais e uma agenda ambiental branda”.
Haroldo Ferreira ressalta que “o maior crescimento das exportações chinesas tem como destino os países da América Latina, com um crescimento de 19,8%, em volume, no mês de junho. Ou seja, as vendas se destinam a países que são alguns dos principais destinos do calçado brasileiro. O gigante asiático está adevorando nosso mercado no continente”.
Nesse contexto, o presidente-executivo da Abicalçados adverte: “se hoje, mesmo com o antidumping parcial contra o calçado chinês, temos essa invasão de produtos chineses, o que dirá com tarifa zero em um acordo de livre comércio? A indústria brasileira, não somente a de calçados, irá acabar”, concluiu.
Fonte: Comex do Brasil